sábado, 16 de junho de 2012

RENDIMENTO, UMA QUESTÃO DE VONTADE?

A onda de desagrado em torno das exibições de Cristiano Ronaldo é no mínimo curiosa, a par de Eusébio falamos do melhor jogador Português de todo o sempre, contudo, quando o povo Português se refere ao “Ronaldo da seleção” tende a desprezar e a qualificar as suas aptidões de um modo depreciativo.
Ao comparar Ronaldo na seleção a Ronaldo no Real Madrid, ou um jogador aleatório na seleção e no seu clube, metaforicamente comparamos a aptidão de um taxista que conduz um ligeiro de passageiros a quem posteriormente lhe é pedido a condução de uma limousine de 20 postos.
Veja-se o exemplo de Podolski, nos clubes por onde passou nunca foi referência máxima e só este ano, aos 27 anos, poderá dar um grande salto qualitativo na sua carreira em direcção a Londres para jogar pelo Arsenal. Contudo, na selecção, em todas as fases finais tem sido elemento chave para o rendimento do grupo chegando por vezes a decidir jogos como por exemplo no 4-0 contra a Argentina do "SUPER MESSI" no Mundial 2010.
Por falar em Messi, o rendimento deste é o mesmo no Barcelona e na selecção?
Recordo-me da ultima Copa América, onde a Argentina com uma super equipa acabou sendo eliminada pelo Uruguai, e Messi foi tanto ou mais criticado que o nosso Cristiano.
A este ponto parece absurda a minha análise, porque futebol é futebol, e o melhor do Mundo terá de o ser no seu clube e na sua seleção. Contudo, as coisas não são assim tão lineares. Veja-se o exemplo do Senegal no Mundial de 2002, com uma seleção que apresentava um futebol moderno e ofensivo, El Hadji Diouf era a estrela principal (hoje joga no mítico Doncaster Rangers), mais tarde por todos os clubes onde passou (incluindo o Liverpool), fazia perceber facilmente que não tinha estaleca para lá andar. Contudo, nesse Mundial venceram com distinção uma França onde brilhavam Zidane, Vieira, Henry, Pires... e poderia continuar.
Não podemos confundir o futebol de seleção onde os atletas se concentram 4/5 vezes ao ano e nas grandes competições usam 2/3 semanas para preparar a fase final, com o futebol de clubes onde a preparação é longa e a competição dura em torno de 9 meses.

Um atleta como Ronaldo, deixo-vos consultar as estatísticas, entre Champions League, Liga Espanhola, Taça do Rei e Seleção Nacional, neste momento, estará numa sobrecarga tal que o trabalho que faz na seleção, seguramente, é mais de recuperação que de desenvolvimento, de qualquer que seja a dimensão do treino. Não só do ponto de vista físico como psicológico, as fases finais de um campeonato da Europa ou do Mundo são extremamente desgastantes. Por isso, na grande maioria das situações as estrelas da competição são aqueles que ninguém esperava, por razões de várias ordens, seguramente que menos jogos nas pernas e menos tensão emocional durante a época com o seu clube ajuda, e muito.
De um modo muito resumido, entenda-se que o sistema de jogo utilizado na seleção não é o mesmo do Real Madrid. Mais importante ainda, as rotinas utilizadas no Real, o Modelo de jogo do Real, nada tem que ver com o utilizado na nossa Seleção. Como pode um atleta render ao máximo quando passa 10 meses a jogar de um modo, onde reiteram um inúmero conjunto de princípios, e neste preciso momento adaptar-se rapidamente a um outro enorme conjunto de princípios? Outra situação, jogar numa frente de ataque com Nani e Postiga não é exatamente o mesmo que jogar com Benzema e Di Maria, ou Higuain e Ozil.
Entenda-se que a filosofia de jogo dominante do Real Madrid, onde todas as partidas são dia de dominar e golear o adversário, onde desde o apito inicial o Futebol é ofensivo e de alta intensidade nada tem a ver com o futebol mais paciente e calculista da nossa seleção.

Paulo Bento não tem a sorte de ter um grupo, como o Espanhol, onde a maioiria dos atletas vêm de duas equipas referência (Real e Barcelona). É fácil entender que Del Bosque procura ao máximo que a seleção Espanhola jogue à Barcelona, porquê? Porque aproveita inter-relações entre atletas, rotinas e dinâmicas de jogo já incutidas "no sangue" de cada atleta ao longo de todo o ano competitivo. Paulo Bento, por sua vez, constrói um Modelo do zero. Relembremos a nossa seleção no Euro 2004, onde a predominância era a equipa do Futebol Clube do Porto, porquê? Porque era uma equipa de rendimento top, e que jogava com muitos princípios e dinâmicas idênticas ao FCP.
Em jeito de conclusão, é permitido a cada um de nós pensar, como tal se entenda, que se Cristiano não rende tanto como no Real não é porque não é patriota ou porque não quer, mas sim porque não tem sido capaz. Sejamos pacientes e aguardemos porque ainda temos muito Cristiano para este Euro 2012, assim o espero.

Um bem haja e bom final de semana.

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